"É difícil pensar que este rico mundo seja pobre demais para poder oferecer um objeto ao amor de uma pessoa. Ele oferece um espaço infinito para cada uma. É muito mais a incapacidade de amar que rouba das pessoas as oportunidades. Este mundo é vazio apenas para aquele que não quer direcionar sua libido às coisas e às pessoas, tornando-as vivas e belas para si mesmo. Portanto, o que nos obriga a criar um substituto a partir de nós mesmos não é a carência externa de objetos, mas sim nossa incapacidade de nos envolver amorosamente com algo fora de nós. Certamente as dificuldades das condições de vida e as adversidades da luta pela existência nos oprimem, mas situações externas graves não impedem o amor, muito pelo contrário, no caso elas poderão até nos estimular a realizar grandes esforços. Nunca as dificuldades reais poderão retrair a libido tão continuadamente a ponto de provocarem uma neurose, por exemplo. Para isso falta o conflito, que é a condição para o surgimento da neurose. A resistência, que contrapõe seu não querer ao querer, consegue sozinha produzir a regressão, um possível ponto de partida de uma perturbação psicogênica. A resistência ao amor produz a incapacidade ao amor ou é a incapacidade que atua como resistência. Assim como a libido é um fluxo perene que despeja suas águas na amplitude do mundo da realidade, a resistência, encarada de forma dinâmica, não é como uma rocha que se ergue acima do leito do rio, constantemente banhada e rodeada pela fluxo das águas, mas uma correnteza contrária, que flui para a nascente ao invés de fluir para a foz. Uma parte da alma quer o objeto externo, mas a outra quer voltar ao mundo subjetivo, onde nos acenam os palácios leves e facilmente construídos da fantasia" - JUNG - Vol. 5. § 253.
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