Consciência
Poderia, por favor, explicar o que você quer dizer com consciência? Krishnamurti: Apenas simples consciência! Consciência de seus julgamentos, seus preconceitos, seus gostos e desgostos. Quando você vê alguma coisa, esse ver é o resultado de sua comparação, condenação, julgamento, avaliação, não é? Quando lê alguma coisa você está julgando, está criticando, condenando ou aprovando. Estar consciente é ver, no exato momento, a totalidade deste processo de julgar, avaliar, as conclusões, o conformismo, as aceitações, as negações. Agora, pode a pessoa estar consciente sem tudo isso? Presentemente tudo que conhecemos é um processo de avaliação, e essa avaliação é o resultado de nosso condicionamento, de nosso substrato, de nossas influências religiosas, morais, educacionais. Essa chamada consciência é resultado de nossa memória – memória como o “eu”, o holandês, o hindu, o budista, o católico, ou o que seja. É o “eu” – minhas memórias, minha família, minha propriedade, minhas qualidades – que está olhando, julgando, avaliando. Com isso estamos bastante familiarizados, se estamos de fato alertas. Agora, pode haver consciência sem tudo isso, sem o ego? É possível apenas olhar sem condenação, apenas observar o movimento da mente, da própria mente da pessoa, sem julgar, sem avaliar, sem dizer “Isto é bom” ou “Isto é mau”? A consciência que vem do ego, que é a consciência da avaliação e do julgamento, sempre cria dualidade, o conflito dos opostos – aquilo que é e aquilo que devia ser. Nessa consciência existe julgamento, existe medo, existe avaliação, condenação, identificação. Essa é a consciência do ego, do “eu” com todas as suas tradições, memórias e todo o resto. Tal consciência sempre cria conflito entre o observador e o observado, entre o que eu sou e o que eu devia ser. Agora, é possível estar cônscio sem este processo de condenação, julgamento, avaliação? É possível olhar para mim mesmo, quaisquer que sejam meus pensamentos, e não condenar, não julgar, não avaliar? Não sei se você alguma vez já tentou isto. É bastante trabalhoso – porque todo nosso treinamento desde a infância nos leva a condenar e aprovar. E no processo de condenação e aprovação há frustração, há medo, há dor corrosiva, angústia, que é o próprio processo do “eu”, do ego.
Jiddu Krishnamurti

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