Da Coragem Humana

"Se estás disposto a nunca usar a violência, e sempre resistindo, torna-te forte de corpo e alma: é a mais difícil de todas as atitudes: exige a constante vigilância de todos os movimentos do espírito, o domínio completo de todos os impulsos dos nervos e dos músculos rebeldes; a agressão é fácil contra o medo e também a primeira solução; para que em todos os instantes, a possas pôr de lado e substituí-la pela tranquila recusa, não te deves fiar nos improvisos; a armadura de que te revestes nos momentos de crise é forjada dia-a-dia e antes deles; faz-se de meditação e de ginástica, de pensamento definido e preciso e de perfeitos comandos; quando menos se prevê surge o instante da decisão: rápida e firme, sem emoções ou sufocando-as, tem que trabalhar a máquina formada."
Agostinho da Silva

A propensão, o impulso para a violência é algo de muito profundo e enraizado no ser humano. Durante a maior parte da existência do Homo Sapiens Sapiens sobre a Terra (50 mil anos versus 2 mil) fomos um caçador, uma criatura que fazia depender a sua própria sobrevivência da sua agressividade contra o Meio e contra os seus pares concorrentes.

Querer abstrair o impulso para a agressão, é um dos maiores desafios que se colocam nas grandes religiões do Mundo, mas especialmente no Budismo Mahaiana, que Agostinho conhecia particularmente bem e que parece ter influenciado este curto segmento de texto sobre a Violência.

Agostinho reconhece no Medo a principal causa da Violência. Seria o instinto da fera acossada, levada contra a parede, que a faria reagir, saltando sobre o agressor, com violência. Mas para esse medo atávico, Agostinho prescreve a sua receita...:
A) planificação; devemos antecipar cada momento, preparar cada adversidade, de modo a que quando ela surja estejamos preparados para lidar com ela e estejamos devidamente municiados para enfrentar esse momento de Crise.
B) Meditação e Ginástica: entendidas aqui como preparação mental e estabilização mental desse confuso e intenso turbilhão de ideias e conceitos que assola a nossa mente a cada momento. A redução desse torvelinho, a adopção da clarificação da mente, permitir-nos-á enfrentar qualquer situação com mais eficiência e reduzirá o medo instintivo que surge no momento, porque estaremos mais racionais do que se estivéssemos a mente mergulhada numa confusão de pensamentos. Aqui, também, o Professor segue muito de perto os ensinamentos do Budismo, especialmente os do "Caminho para a Iluminação" de Shantideva, onde este tema é abundantemente abordado
C) A redução da emotividade é talvez o maior desafio que um praticamente do budismo tem que enfrentar... É também o ponto de mais difícil aplicação nesta proposta agostiniana... A emoção está ligada ao Homem, a todos as suas acções e momentos e está mais ligada ao processo de pensamento e a à própria inteligência do que se pensava na época de Agostinho, como veio provar o trabalho de António Damásio.

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