Aquele homem se considerava vastamente erudito e para ele o saber era a própria essência da vida. Seu saber não se cingia a uma ou duas matérias, mas abarcava muitos aspectos da vida; falava com segurança sobre o átomo e o Comunismo, sobre Astronomia e o fluxo anual das águas do rio, sobre dietética e superpovoamento.

“O saber não é útil, essencial? Sem o saber, como pode haver descobrimento?’'

Há descobrimento, não quando a mente está repleta de saber, mas quando o saber está ausente; só então há quietude e espaço, e neste estado é que se realiza a compreensão, o descobrimento. O saber, num certo nível, embora condicione, é necessário: a linguagem, a técnica, etc. Este condicionamento é uma proteção, uma coisa essencial para a vida exterior; mas quando este condicionamento é utilizado psicologicamente, quando o saber se transforma em meio de conforto psicológico, de satisfação, gera inevitavelmente conflito e confusão. De mais a mais, que se entende por saber? Que sabeis realmente?

“Muitas coisas.”

Quer dizer que tendes uma grande quantidade de informações, de dados, relativos a muitas coisas. Possuís estes vastos conhecimentos, e sois por isso menos ambicioso, menos violento, menos egocêntrico? Por terdes estudado as revoluções, a história da desigualdade, estais livre de sentir-vos superior, de atribuir importância a vós mesmo? Porque tendes um amplo conhecimento dos sofrimentos e desgraças do mundo, sentis amor? Além disso, que é que sabemos, de que é que temos conhecimento? A experiência, o saber, que é memória, é útil, em certos níveis; entretanto, a experiência como meio de fortalecer o eu psicológico, o ego, só leva à ilusão.

“Que nos restaria, se ficássemos sem saber, sem experiência, e sem memória? Seríamos então nada.”

E sois agora alguma coisa mais do que isso?
— Jiddu Krishnamurti

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