Existe o problema da violência. Há não só as revoltas dos estudantes, em Paris, Roma, Londres, aqui em Columbia, e no resto do mundo, mas há também este alastrar de ódio e de violência — brancos contra negros, hindus contra muçulmanos, etc. Há uma desumanidade incrível e uma extraordinária violência arreigadas nos corações dos homens — ainda que exteriormente “educados”, condicionados, para repetir preces de paz. Os seres humanos são extremamente violentos. Esta violência é o resultado das divisões raciais e políticas e das distinções religiosas.

Poder-se-á realmente alterar esta violência, tão arreigada em cada ser humano, transformá-la completamente, para que as pessoas vivam em paz? Tal violência é obviamente herdada do animal e da sociedade em que se vive.

O que o ser humano é na sua totalidade, tanto a nível consciente como a níveis mais profundos da sua consciência, produz obviamente uma sociedade com uma estrutura correspondente a tudo isso. E pergunta-se mais uma vez: Será realmente possível ao homem, tão sujeito ao costume, através da educação e da aceitação de normas sociais e de uma cultura, originar uma revolução psicológica em si mesmo, não uma mera revolução exterior? Assim, que é que fará mudar o homem? Como seres humanos, que é que nos fará mudar, a vós e a mim? O estímulo do prêmio ou do castigo? Isso tem sido tentado. Recompensas psicológicas, a promessa de um céu, a punição de um inferno, tudo isso temos tido em abundância e segundo parece o homem não mudou; é ainda ávido, invejoso, cheio de violência, de superstição, de medo, etc. A mera estimulação, provocada quer exterior quer interiormente, não produz uma mudança radical.

Encontrar, por meio de uma análise, a causa pela qual o homem é tão violento, tão cheio de medos, tão extremamente ávido e competitivo, tão fortemente ambicioso — o que é bastante fácil — originará uma mudança? Evidentemente que não, nem isso nem a descoberta de um estímulo. Que é que a produzirá então? Que é que originará, não gradual mas imediatamente, a revolução psicológica? Esta é, parece-me, a única questão.

— J. Krishnamurti

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